domingo, 25 de novembro de 2007

Um dia de trabalho inusitado

Oi queridos!
Essa história que eu vou relatar foi um dia de trabalho, digamos, diferente e inusitado que eu tive na segurança.
Vamos ao contexto um pouco.
Na segurança, como já relatado anteriormente, em outro artigo, somos em 3:
O Petri, que é finlandês, que é segurança profissional, fez exército e tudo mais. Ele é o típico segurança: grande, forte, sério, num nega briga, essas coisas. Ele é voluntário aqui também, mas está tentando a cidadania israelense.
O Michael, alemão, de 20 anos, voluntário aqui faz 3 meses, gente boa pra caramba, brincalhão até no serviço, mas ao mesmo tempo sério.
E eu, que vocês conhecem, sou brincalhão e piadista.
Nesse dia, aqui no Yad Hashmona tinha um grupo passando a noite, da Venezuela.

Sempre que trabalhava só eu e o Michael, era engraçado porque a gente fazia nosso trabalho direito, mas colocava humor nele, batendo papo no walkie talkie, zuando um ao outro, essas coisas.

Nesse dia supracitado, que eu estou relatando, aconteceu o seguinte:
Eu estava fazendo a ronda(volta pelo Yad Hashmona pra ver se está tudo bem) e eu vi um ônibus subindo, indo pra recepção. Mandei um rádio pra ele, perguntando quem era, e ele, ao responder falou algo ao contrario(ele deveria falar “patrulha, recepção”, mas falou “recepção, patrulha”, pq ele ta acostumado a falar). Dei uma “bronca” nele, falando da próxima vez pra ele falar certo...haha. Mas ele achou que eu tava tentando provocar ele, e falou bravo no rádio: volta pra recepção que eu tenho que falar com você. Terminei de fazer minha ronda e fui pra recepção. Chegando na recepção, o Petri me recebeu com 5 pedras na mão. Eis o diálogo, resumido:

Ele: Eu trabalho aqui com você faz tempo, deu tempo de te conhecer, desde o primeiro dia que você esteve aqui comigo, você deu risada do cinto que tem que usar(um cinto de polícia, daqueles que tem alguns compartimentos, pra lanterna, cassetete, etc), deu risada do casaco da segurança, etc. Hoje, pelo rádio, você quis me irritar, me provocar.

Eu: Não, eu não estava tentando te provocar, eu tava brincando!

Ele: Não, faz tempo que eu trabalho com pessoas, eu conheço muito bem. Eu conheço a linguagem corporal, e, pela sua atitude histórica, você tava querendo me provocar sim, eu num acredito em você.

Eu: Eu num tava querendo te provocar, num tenho motivo pra fazer isso. Pra quê, só pra arrumar uma confusãozinha? E eu num minto, porque eu sou crente, e a minha vida com Deus é diária, num é dessas aí que falam uma coisa e fazem outra. existem crentes e crentes.

Ele parou pra pensar um pouco, e continuou: tudo bem, na verdade eu não estava te vendo, não vi sua linguagem corporal, e você disse que num mente porque é crente, reconheço que eu estou errado. Essa é uma das primeiras vezes que eu grito com alguém, estando errado. Me desculpe.

Eu me desculpei também, disse que essa conversa foi boa, pra gente conhecer, e, de fato, nossa relação depois disso melhorou muito. Ele passou a ser mais brincalhão também.
Tudo bem, essa passou, nos desculpamos e ficou tudo bem.

Aí ele foi fazer outra ronda, e, no meio dessa ronda, veio um grupo de estudantes dos Estados Unidos que estão aqui(de uma faculdade cristã da Califórnia, todo semestre tem uma turma aqui, que passam uns 4 meses), trazendo uma senhora que eles disseram que tava andando perdida pelo moshav, e não falava nada em inglês nem em português, só falava um espanhol bem do enrolado, que eu num entendia nada. Mostramos a lista dos hóspedes do corpo pra ela, mas num adiantou nada, porque ela tinha problemas mentais. Passei um rádio pro Petri, pra ele vir ajudar a resolver. Ele chegou, pegou 2 americanos e ela, e levou até o pastor do grupo. Depois de um tempo tentando acordar ele(já passava da 1 da manhã), ele disse que ela tinha problemas, e que sempre fazia essas coisas, de fugir do quarto e se perder por aí. Disse que eles trancavam ela no quarto nas horas que ninguém podia cuidar dela. Muito triste isso que ele disse, e ele ainda é o pastor. Virei pro Petri de novo e falei: pois é né, existem crentes e crentes.
Então ela ficou lá com a gente durante a noite inteira. Nós pegamos um colchão, um travesseiro e um cobertor pra ela dormir lá, mas ela recusou terminantemente! Ficou sentada o tempo todo na cadeira da recepção, falando sozinha, tadinha. Às vezes ela tentava sair da recepção, mas a gente num deixava. De vez em quando ela levantava e ficava mexendo nas coisas da recepção. Teve umas 3 vezes que ela começou a chorar também. Já chegando às 5 e tanto da manhã ela começou a ficar irritada, começou a pegar as coisas(enfeitinhos das mesas, travesseiro, etc) e jogar no lixo. Aí ela cansou, e sentou de novo na cadeira. Um tempinho depois veio a companheira de quarto dela, pegou ela e levou embora.

Esse foi um dia diferente na segurança, que sempre é calmíssimo.
No dia seguinte a recepcionista da noite perguntou como que tinha acabado a história(ela ainda tava aqui quando trouxeram a senhora), e quando eu falei que ela passou a noite inteira conosco, ela começou a dar risada, e falou: Quando você chegar de voltar no Brasil, você vai ter muita história pra contar pros seus amigos né? E falei pra ela do blog.

É isso
Amo vocês
Beijos
Augui

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